Eu já quis ser Tarzan, salva vidas e até peão de boiadeiro... Músico? Nem dei por isso, mas lembro que comecei no pandeiro. Lutei judô e joguei capoeira, dei rabo de arraia e da vida levei rasteira, mas nunca fugi da raia, nem rasguei minha bandeira. Dei volta ao mundo e muito novinho, aportei em Portugal. Eu, meu cavaquinho e meu linguajar informal. Cheguei a China, a França, a Inglaterra, quanta terra eu conheci. No Pantanal pesquei tucunaré, vi a onda gigante em Nazaré e posso garantir que a terra é redonda... fui ao Tivoli de Copenhagen, de Lisboa e do Rio, rodei nas rodas de samba de fio a pavio. Brinquei Carnaval em blocos, na Marquês de Sapucaí e me acabei no Marquês de Pombal e no Rossio.
Da Unidos do Jacarezinho à minha Mangueira, brinquei em várias Escolas, tocando pela Avenida inteira. Segui de navio, de avião, a pé e de carona. Toquei em Teatros famosos e em circo de lona. Fui filho, fui tio, fui pai e, quem diria, já sou avô! Entrei na igreja, de cravo na lapela, para casar as filhas Marina e Gabriela. A vida recomeça a cada instante, quem me viu chorando não reconhece o meu semblante.
Eu sigo amando… Às vezes rindo, às vezes chorando, tocando a vida de improviso, mas de olho na partitura. Errei muitas notas, mas qual Tarzan não caiu do galho, qual salva vidas não engoliu água e qual peão nunca caiu do cavalo? Tenho a minha amada, uma família unida, porém pequena, amigos reais e até do primário. Alguns virtuais, outros dos tempos universitários, de antigos carnavais e outros tantos, revolucionários.
Como dizia o poeta Belchior, viver é melhor que sonhar, mas o que é a vida de um rapaz latino-americano, se não um sonho? E nos sonhos, as paralelas sempre se encontram.